Quero abraçar o mundo

Não tem jeito, a época que antecede o Natal é de pura reflexão. A gente fica mais emotivo, mais amoroso, mais amigo. Queremos abraçar mais, queremos mais paz. Não é à toa que essa época é a que mais o comércio aquece, mas a que mais doações são contabilizadas também. Nós ficamos mais generosos. As pessoas passam a dar bom dia, a sorrir mais. Parece que a esperança se refaz, busca entusiasmo para ser renovada. Para muitos, tudo isso gera melancolia e conturbadas emoções. Para esses, a vida parece ter ainda menos sentido. As lágrimas de Natal são as mais salgadas. As luzes só parecem destacar a dor. Por mais que a gente insista, olhar para o menos favorecido nem sempre é motivo para aumentar a importância de respirar e, assim, valorizar a vida. Também por isso, a época do Natal é a mais escolhida para quem decide se despedir precocemente da vida. A energia de dezembro é diferente. O céu às vezes escurece, mas o calor abafa e a chuva refresca. Todos os anos, a chuva vem nessa época para lembrar que não crescemos corretamente, que não nos abrigamos no planeta de maneira harmoniosa. Aí, quase acabando o segundo tempo, a chuva leva mais algumas pessoas pro lado de lá, somadas aos desastres e anunciadas na retrospectiva da TV. E então nos lembramos de agradecer quando tudo de ruim não aconteceu com a gente. Refletimos. Algumas pessoas vão embora, outras chegam. A vida parece menor a cada ano, e realmente fica se decidirmos não aprender com ela. Não faz muito tempo passei a prestar mais atenção à ampulheta da minha vida. Ela é transparente e felizmente eu não sei quanto ainda resta, mas sei que posso fazer melhores escolhas. Refletir faz bem e acho que esse pode ser o principal objetivo do Natal.